Segmentos consonantais e vocálicos

Mecanismos de produção de segmentos consonantais e vocálicos

(Artigo extraído de anotações acadêmicas com base nos estudos de Thais Cristófaro Silva - Fonética e fonolofia do português)

Para a produção de qualquer som em qualquer língua fazemos uso do aparelho fonador, que compreende: sistema respiratório, fonatório e articulatório.

Cordas vocais e laringe

São músculos estriados localizados na laringe, que podem obstruir a corrente de ar. A função da laringe é impedir a passagem de alimentos deglutidos para os pulmões por meio de abaixamento da glote.

O papel das cordas vocais A glote é o espaço onde estão situadas as cordas vocais.
Quando as cordas vocais estão unidas e a glote fechada, o ar precisa fazer pressão para passar pela cavidade e então, há vibração dessas cordas, produzindo *sons sonoros ou vozeados. Ao contrário, se a glote está aberta, as cordas vocais separadas, há livre passagem do ar e os sons são surdos ou desvozeados. Pode-se testar esses sons colocando a mão sobre a glote (pomo-de-adão, nos homens) e pronunciando, por exemplo: /f/ /v/.

Algumas explicações sobre o processo de produção dos sons

As correntes de ar
Há duas direções para as correntes de ar: egressiva - ar sai dos pulmões e vai para fora (língua portuguesa) e ingressiva - o ar vai para dentro (igbo).

Sons orais, nasais, nasalizados Se o véu palatino está levantado, o ar sai pela boca mais livremente - produz-se sons orais: [b] [s] [a].
Véu palatino abaixado, cavidade oral fechada (lábios, dentes, palato), a passagem do ar é naso-faringal - produz-se sons nasais: [n] [m].
Véu palatino abaixado e sem impedimento de saída de ar para a cavidade oral - produz-se sons nasalizados: [ã] [õ].

Diferenças entre vogais e consoantes

Do ponto de vista articulatório, as vogais diferenciam-se das consoantes pela obstrução da passagem de ar. Quando o ar é obstruído de alguma maneira,produzem-se as consoantes, e quando a passagem é livre, produzem-se as vogais. Por exemplo, as consoantes:
[m] -> há uma obstrução de ar nos lábios.
[t] -> o ar é obstruído por algum tempo nos dentes e depois é solto de uma vez.
[s] -> o ar não é obstruído na cavidade oral, mas também não sai livremente: a língua deixa pouco espaço e o ar sai com uma certa fricção.
Por exemplo, as vogais:
[a] [i] [u] -> o ar sai livremente sem entrave de algum articulador na cavidade oral.

Classificação das consoantes

Segundo a autora, as consoantes são classificadas:
a) pelo lugar ou ponto de obstrução;
b) pelo modo como o ar é obstruído;
c) pelo vibração das cordas vocais.

Articuladores ativos e passivos
Os articuladores ativos movimentam-se em direção ao articulador ativo e é isso que faz a diferenciação de sons. A língua, o lábio inferior, o véu palatino e as cordas vocais constituem o quadro dos articuladores ativos. Os passivos são: o lábio superior, os dentes superiores e o céu a boca ( alvéolos, palato duro, palato mole e úvula. São chamados passivos, porque não se movimentam, apenas recebem movimentação dos articuladores ativos.

Segmento nasal ou oral
O véu palatino é popularmente chamado de 'céu da boca'. No final do véu palatino encontra-se a úvula>, conhecida como 'campainha'. Quando a úvula está levantada, a produção do som é 'oral', pois há obstrução do ar para a cavidade nasal. Mas se dissermos: ããã... , a úvula vai abaixar-se e o som produzido será 'nasal', pois ao contrário, a obstrução do ar ocorrerá para a cavidade oral e assim, a ressonância é nasal.

Modos de articulação

O modo de articulação corresponde aos diferentes modos saída do ar sai pela boca. São eles:

  • Oclusivo:
    Na cavidade oral, os articuladores estão fechados. O véu palatino está levantado e por isso o ar não pode escapar para a cavidade nasal. Mas quando os articuladores se abrem, o ar sai como explosão: consoantes /p/ /b/ /k/ /t/.

  • Nasal:
    Os articuladores estão fechados, o ar não pode passar. Como o véu palatino está abaixado, o ar escapa para a cavidade nasal: manhã, Ana.

  • Vibrante:
    O articulador ativo bate várias e rápidas vezes no articulador passivo (ponta da língua bate várias vezes nos alvéolos): carro e rana (rã) (italiano).

  • Tepe: (vibrante simples)
    Batida rápida e única do articulador ativo no articulador passivo: fora, fraca.

  • Fricativo:
    Os articuladores se aproximam estreitanto o trato vocal. O ar sai produzindo fricção: fava, sã, chave.

  • Africado ( oclusiva com fricativa):
    Primeiro ocorre uma obstrução da passagem de ar como nas oclusivas e depois ocorre uma abertura com fricção como nas fricativas: tia, dia.

  • Lateral:
    A corrente de ar é obstruída na linha central da boca porque o articulador ativo toca o passivo - o ar sai pelos lados da boca.

Pontos de articulação

Os pontos de articulação são denominados de acordo com os articuladores passivos. Conforme o lugar de articulação dos segmentos sonoros, sabe-se qual é o articulador ativo e o qual o articulador passivo envolvido no processo.

Abaixo estão listados os lugares ou pontos de articulação importantes na língua portuguesa:

  • Bilabial: [p] [b] [m]
    Obstrução do ar pelos dois lábios. Os sons bilabiais são produzidos pelo estreitamento ou fechamento do espaço entre os dois lábios. O articulador ativo é o lábio inferior e o articulador passivo, o lábio superior: (pata, bata, mata).

  • Labiodental: [f] [v]
    Obstrução parcial da corrente de ar entre o lábio inferior ( articulador ativo ) e os dentes incisivos superiores ( articulador passivo ): (faca, vaca).

  • Dental: [t] [d] [n] [l] [s] [z]
    Ponta da língua ou ápice ( articulador ativo ) mais dentes incisivos superiores ( articulador passivo ) ou com a ponta da língua entre os dentes. Ex: 'the' (inglês): ( data, nata, lata, sapo, Zanata).

  • Alveolar: [t] [d] [n] [s] [z] [l]:
    Ponta ou lâmina da língua ( articulador ativo ) contra a arcada alveolar (articulador passivo ): ( tala, data, nata, lata, Zanata. O dental e o alveolar representam uma variação de pronúncia - há pessoas que usam como articulador passivo os dentes, outras, os alvéolos.

  • Alveopalatal: (sons correspondentem a /t/ /d/ (dialeto carioca e paulista) e a /ch/ /j/)
    Também denominada 'pós alveolar' - a lâmina da língua ( articulador ativo ) bate no começo do céu da boca, isto é, na parte anterior do palato duro ( articulador passivo ): tia, dia (dialeto carioca), chá, jaca.

  • Palatal: (sons que correspondem a /nh/ /lh/)
    Centro da língua ( articulador ativo ) contra o final do palato duro (articulador passivo ): minha, telha.

  • Velar: [k] [g] (sons que correspondem ao 'r' velar carioca em meio de palavra e ao 'r' carioca no início de palavra.)
    Dorso da língua ( articulador ativo ) contra o véu palatino ( articulador passivo ): casa, galo, rata (dialeto carioca), carga (dialeto carioca).

  • Uvular: [ ] (sons que correspondem ao 'r' de 'orra' (dialeto paulista))

  • O dorso da língua ( articulador ativo ) contra o véu palatino e a úvula ( articuladores passivos ): 'orra, meu!' (dialeto paulista)
  • Faringal [ ] (não há em português )
    A raiz da língua (articulador ativo) contra a parede posterior da faringe (articulador passivo). Ex: 'quando limpamos a garganta'. Exemplo uso: língua árabe.

  • Glotal: [ ]
    (sons produzidos pelas cordas vocais - 'r' de BH em 'carro') ( 'r' brando aspirado): porta (BH), carga (carioca).

Exercícios:
Classificação das consoantes grafadas:

<table> <tr> <td>exemplo</td> <td>modo</td> <td>ponto</td> <td>vozeamento</td> </tr>
<tr>
<td>pata</td> <td>oclusiva</td> <td>bilabial</td> <td>desvozeada</td> </tr> <tr> <td>bala</td> <td>oclusiva</td> <td>bilabial</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>tapa</td> <td>oclusiva</td> <td>alveolar</td> <td>desvozeada</td> </tr>
<tr>
<td>data</td> <td>oclusiva</td> <td>alveolar</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td><b>c</b>apa</td> <td>oclusiva</td> <td>velar</td> <td>desvozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>gata</td> <td>oclusiva</td> <td>velar</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>tia</td> <td>africada</td> <td>alveolopalatal</td> <td>desvozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>dia</td> <td>africada</td> <td>alveopalatal</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>faca</td> <td>fricativa</td> <td>labiodental</td> <td>desvozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>vaca</td> <td>fricativa</td> <td>labiodental</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td><b>s</b>apo</td> <td>fricativa</td> <td>alveolar</td> <td>desvozeada</td> </tr>
 <tr>
<td><b>c</b>asa</td> <td>fricativa</td> <td>alveolar</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>chá</td> <td>fricativa</td> <td>alveolopalatal</td> <td>desvozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>genro</td> <td>fricativa</td> <td>alveolopalatal</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td><b>m</b>ala</td> <td>nasal</td> <td>bilabial</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td><b>n</b>ada</td> <td>nasal</td> <td>alveolar</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>banha</td> <td>nasal</td> <td>palatal</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>tango</td> <td>nasal</td> <td>velar</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>plana</td> <td>lateral</td> <td>alveolar</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>sala</td> <td>lateral</td> <td>alveolar</td> <td>vozeada</td> </tr>
 <tr>
<td>malha</td> <td>lateral</td> <td>palatal</td> <td>vozeada/ velarizada</td> </tr> </table>
Professora de Língua Portuguesa - Glória E. Galli - Formação - Letras na UNAERP e Mestrado em Linguística pela UFSCar
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