“Senhor, descansai minha pobre alma”

Quem foi o escritor Edgar Allan Poe?

O escritor

“Senhor, descansai minha pobre alma”. Com estas palavras, Edgar Poe resumiu e encerrou sua breve e trágica história de vida, a qual foi marcada por dissabores iniciados aos 2 anos de idade, quando seu pai abandona a família e sua mãe morre deixando-o órfão junto a uma irmã recém nascida. Adotado pela família Allan, de onde vem a incorporar o nome Allan Poe, continuou a sua tragicidade, seja pelas desavenças com o padrasto, pela morte de sua mãe adotiva que o amara tanto, ou seus problemas com o álcool. E não pára por aí. Poe ainda veio a perder sua jovem esposa e pouco depois, sua própria vida.

Como estudioso de sua obra, sugiro aos leitores e críticos que não caiam na tentação de comparar a tragicidade e sequência de mortes em sua vida com sua obra, assim como fiz em meu trabalho de conclusão de curso, pois, embora esta tenha rondado os passos do escritor, Poe buscou um estilo sempre interessado na psicologia e no lado sombrio da natureza humana, o que faz com que em sua obra jamais se encontre amor, talvez porque para ele, prazer não significa exatamente felicidade, como afirmaria Baudelaire.

Além de escritor, Poe foi também redator e crítico literário, desenvolvendo sempre com grande êxito seu trabalho. Isto o faz odiar livros e escritores ruins e produzir críticas sempre exatas. Harvey Allen as descreve como “interessantes, perturbadoras e renovadoras”, numa época em que as críticas americanas eram um tanto quanto superficiais e nebulosas.

Se por um lado, atraiu a atenção sobre si, por outro também arranjou inúmeros inimigos, o que prejudicou imensamente sua carreira literária, pois não houve quem não quisesse se vingar; destacando-se como um dos fatos mais marcantes, a famosa “Guerra contra o poeta Longfellow”.

A obra

Poe iniciou sua carreira literária em 1827, com o livro “Tamerlane and other poems”, o qual passou praticamente despercebido da crítica literária americana. O reconhecimento só apareceria quase vinte anos mais tarde, com o poema The raven (O corvo), publicado anonimamente em janeiro de 1845, onde logrou grande êxito desde o início, devido ao seu tom grave e quase sobrenatural. Poe descreve o processo de criação desse poema em “A filosofia da Composição”. Em seu trabalho, sempre houve um pouco de sua dicotomia psíquica, ou seja, sua inteligência aguda e racionalista, se juntava à física, metafísica, intuição poética e ao raciocínio matemático, sempre o ajudando a direcionar seus terrores e fobias para suas obras. Essa dicotomia marca também a própria personalidade de Poe, embora o leitor ou o crítico nunca deva confundir o escritor com o sua obra. Pode-se dizer que sua preocupação era geralmente com a morte, a decadência, ou o próprio mistério da vida.

No gênero conto, sua obra pode ser classificada em dois grupos principais:

a) Contos de horror ou góticos:

Poe se concentrava no terror interior, representando o íntimo da alma humana, apresentando personagens doentias, obsessivas e fascinadas pela morte, além de vocacionadas para o crime. Destacam-se: O gato preto, O barril de Amontilado, O coração delatador, entre outros.

b) Contos analíticos, de raciocínio ou policiais:

Nos contos de raciocínio, Poe apresenta um quebra-cabeça que só é solucionado, brilhantemente, pelo detetive Dupin que usa um raciocínio que só se torna evidente no fim. Destacam-se: O assassinato da Rua Morgue, A carta roubada, entre outros.

Como criador do gênero policial, Poe inspirou Arthur Conan Doyle na criação do detetive Sherlock Homes. The murders of rue Morgue, The mystery of Marie Roget and The purloined letter, entre outros.

Vale ainda citar o processo de criação de sua obra, no que tange aos contos góticos: Segundo Poe, o principal cuidado do artista não deve ser a exposição de teses ou desenvolvimento de idéias, mas a realização de um efeito de conjunto, afirmando ainda que sem a compreensão do narrador, o ‘efeito’ seria completamente diferente. Para tanto, utilizou-se do que chamamos de unidade de efeito, por meio da narrativa em primeira pessoa, do tema da morte, do apelo aos sentidos e da narrativa fantástica, entre outros, para conseguir tal unidade.

Obras de Poe que não podem deixar de serem lidas: Os contos: O gato preto, O coração delatador, A carta roubada, O assassinato da Rua Morgue, O barril de Amontilado, A queda da casa de Usher, A descida ao Maelstron e um dos mais importantes poemas da literatura americana, O corvo.

Ver também O gênero Conto

Professora de Língua Portuguesa - Glória E. Galli - Formação - Letras na UNAERP e Mestrado em Linguística pela UFSCar
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