Arcadismo

O Arcadismo foi um movimento artístico que nasceu na Itália inspirado nos costumes de uma antiga região da Grécia Antiga, a Arcádia. Segundo as tradições, nessa região, as pessoas viviam de modo simples, espontâneo, cantando, vivendo de modo prazeroso em diálogo poéticos. Com a intenção de imitar os moradores dessa região, os italianos criaram uma academia denominada Arcádia. Essa academia, contrariando as tendências do Barroco, introduzia um neoclassicismo, já que voltavam aos costumes clássicos. Seus representantes vestiam-se como os pastores gregos, reuniam-se em jardins, usavam seus pseudônimos, enfim, tentavam imitar a vida natural que eles viviam. Tanto Brasil quanto Portugal seguiram esses modelos procurando também os ambientes campestres.

O contexto histórico

Do século XV ao XVIII, o mundo ocidental passou por profundas transformações: começou com o Renascimento, que busca os costumes greco-latinos, passa pela Revolução Comercial, a ascenção da Burguesia, a Reforma protestante e culmina no século XVIII com a Revolução francesa que põe fim ao mundo medieval. O século XVIII rompe de vez com o poder da nobreza. Porém, desde o Renascimento sempre houve alguns agrupamentos que defendiam as ideias científicas e filosóficas, contrariando, dessa forma, a fé cristã. Esse movimento que aos poucos crescia em busca de liberdade denominou-se Iluminismo e foi o pilar para a instauração do Arcadismo. Porém, outra classe passa a controlar a economia, passa a ser a classe de prestígio, a dominante – a burguesia. A nova classe chocou-se com as ideias dogmáticas da Igreja e, também, com a aristocracia. Rompe com os ideiais barroco e as questões passam a ser analisadas pela razão.

Arcadismo no Brasil

O marco do arcadismo no Brasil é com Claudio Manoel da Costa, em 1768 com Obras Poéticas e termina em 1836 quando inicia o Romantismo.

As características do Arcadismo
Para ilustrar as características, seguem excertos do poema Marília de Dirceu, de Claudio Manoel da Costa.

  • Carpe Diem

Tal como o Barroco, aproveite o dia, um convite aos prazeres da vida:

Ah! não, minha Marília,
aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças,
e ao semblante a graça![...] {: cite=recuo.lpeu}

  • Fugere urbem <sup>fuga para o campo</sup>

Os árcades defendem do bucolismo ( a vida no campo) tal qual os pastores gregos. Fogem da vida urbana, onde não há prazeres e os costumes são corrompidos. No campo há paz e naturalidade:

É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.[...] {: cite=recuo.lpeu}

  • aurea mediocritas (= vida medíocre)

Amor ao bucolismo, às delícias da vida no campo contrapondo ao luxo da vida urbana. Aqui, o termo medíocre não tem o sentido atribuído pelo senso comum; significa viver em harmonia, em equilíbrio:

Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores {: cite=recuo.lpeu}

  • Tendências iluministas

O arcadismo defende os ideiais de liberdade, políticos e filosóficos, o uso da razão contrariando a fé cristã:

[..]
Se os peixes, Marília, geram
Nos bravos mares, e rios,
Tudo efeitos de Amor são.
Amam os brutos impios,
A serpente venenosa,
A onça, o tigre, o leão.
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção? {: cite=recuo.lpeu}

  • Culto às formas clássicas

Volta aos cultos do Classicismo; porém, os poetas seguiam os modelos do Renascimento. Mas as figuras mitológicas, os deuses, os mitos estão presentes:

[..]
As grandes Deusas do Céu
Sentem a seta tirana
Da amorosa inclinação.
Diana, com ser Diana,
Não se abrasa, não suspira
Pelo amor de Endimião?
Todos amam: só Marília
Desta Lei da Natureza
Queria ter isenção? {: cite=recuo.lpeu}

  • Convite ao amor
    No poema árcade, o pastor convida a amada a aproveitar a vida com ele, porém ela é sempre inalcançável:

[...]
Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso {: cite=recuo.lpeu}

Contexto histórico no Brasil

Tal qual aconteceu em Portugal, o Brasil também no século XVIII passou por profundas mudanças. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, todo o centro econômico do Nordeste transfere-se para o Sudeste; assim, Vila Rica passa a ser importante centro comercial. As mesmas tendências artísticas e literárias ocorridas em Portugal, consequentemente, ocorrem no Brasil, assim, o movimento literário voltou também ao Classicismo. A burguesia ansiava por um movimento novo.

  • Características do Arcadismo no Brasil

Embora a linguagem árcade, de modo geral, atendendo a burguesia, era fortemente marcada pela estilo lusitano. A arte não retrata a realidade e sim, precisa ter algo da verdade, no Brasil, esse movimento, embora seguisse os moldes lusitanos, diferenciava-se em parte dos temas europeus. Nesse cenário entrava o índio, os episódios da vida na colônia, os movimentos que influenciaram a Inconfidência, a paisagem tropical, elementos da flora e fauna brasileiras, a mineração.

  • Os autores brasileiros

Além de Claudio M. da Costa, destacam-se Santa Rita Durão, Basílio da Gama, Tomás Antonio Gonzaga (o poeta mais popular do Arcadismo no Brasil), Silva Avarenga.

Ver o próximo movimento O Romantismo e o panorama histórico

Professora de Língua Portuguesa - Glória E. Galli - Formação - Letras na UNAERP e Mestrado em Linguística pela UFSCar
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